Na Conferência de Ministros da Agricultura das Américas, que ocorre na sede central do IICA em São José, Costa Rica.
São José, 6 de outubro, 2023 (IICA). O cientista Rattan Lal, maior autoridade mundial em ciências do solo e Laureado do Prêmio Mundial de Alimentação 2020, adjurou aos máximos funcionários agrícolas do hemisfério reunidos na Conferência de Ministros da Agricultura das Américas 2023, que ocorre em São José, Costa Rica, a impulsionar e promover nos seus países a criação de uma lei de saúde dos solos, pelo papel estratégico que esse recurso natural tem para o agro, a sustentabilidade ambiental e a segurança alimentar global.
“A lei de saúde dos solos deveria ser prioridade no nível nacional, espero que realmente sejam incorporadas leis para a saúde dos solos. Sejam proativos quando voltem aos seus países, falem com os seus presidentes, que esta lei tenha uma cláusula pela qual os agricultores sejam pagados créditos de carbono pelos seus serviços ecossistêmicos, pelas práticas conservacionistas que eles utilizam, para apoiar os cultivos que temos; defendam as coisas em que acreditam, se não, vamos ficar para atrás”, advertiu Lal em uma apresentação de alto impacto durante o encontro convocado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
Lal, Embaixador de Boa Vontade do IICA e Cátedra IICA em Ciências do Solo, reconhecido mundialmente pelo seu trabalho centrado no potencial dos solos para ajudar a resolver problemas globais como a mudança climática, a segurança alimentar e a qualidade da água, apresentou o desafio no fórum “Escalar o financiamento climático: oportunidades para a agricultura”, que forma parte da agenda de trabalho da Conferência ministerial em que participam 32 ministros das Américas, altas autoridades nacionais e de organismos internacionais, líderes rurais, acadêmicos de reconhecimento mundial e representantes do setor produtivo e industrial.
Rattan, que também lidera o Centro de Gerenciamento e Sequestro de Carbono Rattan Lal (C-MASC), da Universidade Estadual de Ohio, abordou no seu discurso a importância de que o setor agropecuário dos países da região consiga avances significativos no que chamou “cultivo de carbono”, essencial para “enfrentar a mudança climática e conquistar os objetivos de desenvolvimento sustentável”.
“Melhoramos a saúde do solo ao adicionar carbono ao solo; a produtividade e a resiliência. Com o potencial do sequestro de carbono, com os solos administrados corretamente, podemos mitigar a mudança climática e atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável como o fim da pobreza, zero fome, redução de desigualdades, água e saneamento, objetivos que não estamos atingindo porque a palavra solo que tem a ver com todos, não aparece”, argumentou.
Na sua apresentação, Lal sinalizou o programa “Solos Vivos das Américas”, iniciativa que realizam o C-MASC e o IICA e que articula esforços públicos e privados no combate da degradação dos solos, um fenômeno que ameaça abalar as capacidades dos países de satisfazer de forma sustentável a demanda de alimentos.
“O que vemos é que os solos estão perdendo carbono, se extrai do solo compostagem, resíduos de cultivos, biomassa, as perdas por erosão e decomposição, e os rendimentos de produção agrícola diminuindo, o nosso objetivo é que aconteça o contrário com o programa do IICA que se concentra nisso”, disse.
Agricultores e o setor privado protagonistas
O cientista sinalizou aos ministros que o “solo tem poderes divinos”, pela sua importância para a saúde humana e planetária, e inclusive é fundamental para a paz mundial, e indicou que somente os agricultores podem recuperá-los, ao entender que são os principais guardiões dos recursos naturais, fundamentais para a sua atividade produtiva.
“O agricultor deve receber pagamento conforme as suas práticas sustentáveis de uso do solo, se realizam agricultura conservacionista, devem receber um pagamento, e aqui o setor privado tem um papel importante, a sua colaboração é crítica para ajudar pagando créditos de carbono ao agro, que o governo muitas vezes não pode fazer”, adicionou.
Na sua apresentação assegurou que rumo à COP 28, que ocorrerá de 30 de novembro a 12 de dezembro em Dubai, o tema de investir no agro e no sequestro de carbono como solução aos impactos climáticos estará no topo da agenda
Compromisso para a ação política
A exposição do Lal tocou fundo nas autoridades agrícolas da região, que apoiaram a necessidade de priorizar ações e políticas com os agricultores no centro, para cuidar da saúde dos solos e potenciar assim o desenvolvimento do agro nos seus países, em conjunto com a sustentabilidade ambiental.
“O solo rural agropecuário deve estar no centro das políticas públicas da região, e isso quer dizer que além de pensar no financiamento que o solo possa ter para a luta contra a mudança climática, devem existir políticas dirigidas para permitir incentivos para a conservação; reconhecer o estado de conservação dos solos que as agriculturas campestres, povos indígenas e comunidades afrodescendentes têm hoje. Nas comunidades locais com o desenvolvimento das suas atividades tradicionais, onde estão os solos agrícolas mais bem conservados, um recurso que potência a vida e o futuro do mundo”, assegurou a Vice-ministra de Desenvolvimento Rural da Colômbia, Martha Carvajalino.
“Desde o ano passado e justamente graças à recomendação (do Lal) e com o apoio do IICA, o governo do México projetou uma estratégia nacional para os solos para a agricultura sustentável e hoje é uma realidade. Nos tem ajudado a valorizar este principal ativo do nosso setor agroalimentar e principal patrimônio dos produtores. É o rumo correto para obter uma produção sustentável de alimentos”, adicionou o Coordenador Geral de Agricultura dessa nação, Santiago Arguello.
O Vice-ministro de Agricultura e Pecuária da Costa Rica, Fernando Vargas, detalhou que no caso do seu país produto da lei de solos, “60% são protegidos e estão em conservação, e 20% dos bosques estão nas mãos dos produtores agropecuários”. “Existe um grande esforço que se está realizando em diferentes países, porém, os recursos (financeiros) são limitados para poder fazer esse investimento no tema da venda de carbono, uma renda importante para os produtores”, disse.
O Chefe de Missão Adjunto do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, Mike Flores, expressou que “a proteção dos solos e investir no agro inteligente é crucial pelos benefícios que representa para a segurança e qualidade dos alimentos e da água”, uma tarefa em que tanto os “setores público e privado” são essenciais, com o objetivo de “melhorar as práticas e vencer esses entraves enquanto ao sequestro de carbono e a mitigação dos gases de efeito estufa”.
“Temos que promulgar leis para a conservação dos solos saudáveis, o pagamento pelos serviços ecossistêmicos aos produtores, que na sua maioria não têm acessibilidade a tecnologias disponíveis para a agricultura regenerativa”, complementou o Vice-ministro de Segurança Alimentar e Nutricional da Guatemala, César Vinicio Arreaga.
“Nós temos que ser proativos como ministério de agricultura, estão os incentivos e essa mudança estrutural que a agricultura requer”, mencionou pelo seu lado o Vice-ministro de Desenvolvimento Produtivo Agropecuário do Equador, Paul Núñez.
“Temos que colocar no centro o agricultor, que é o autêntico e verdadeiro protagonista do desenvolvimento sustentável das Américas. No El Salvador estamos realizando acompanhamento técnico e assistência para as comunidades para não falar das consequências da vulnerabilidade e os riscos climáticos, e tentar conquistar uma agricultura regenerativa dos solos, porque sabemos perfeitamente que de lá nasce a produção”, avaliou o Ministro de Agricultura e Pecuária, Óscar Guardado.
O Ministro de Agricultura de Belize, José Abelardo Mai, destacou que o setor agropecuário está em “uma posição de privilégio para gerar renda legítima para a atividade, por meio do fomento da saúde do solo que é essencial, e por meio do sequestro de carbono”, enquanto o Diretor Geral de Desenvolvimento Agrícola e Agroecologia do Peru, José Alberto Sáenz, destacou que frente à mudança climática “o que os Estados devem fazer é fornecer uma proteção social, apoio sobre tudo ao pequeno agricultor, que é o mais vulnerável nesses cenários” de enchentes, secas, mudanças de temperatura, entre outros.
“O acesso ao financiamento climático é um problema que vemos em Trinidade e Tobago, não beneficiamos de todos os recursos que existem e as colaborações para criar um agro inteligente são cruciais. Queremos avançar nos inventários de GEE, analisar nossas atividades de mudança climática, e equilibrar as estratégias para a mitigação, temos dificuldades devido à nossa renda per capita”, concluiu o Ministro de Agricultura, Solos e Pesca do país caribenho, Avinash Singh.
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