O encontro de ministros, que foi inaugurado com uma convocatória a fortalecer o papel do continente como fiador da segurança alimentar e sustentabilidade ambiental global, em um contexto de crise climática e econômica, continuará até quinta-feira 5 de outubro.
São José, 4 de outubro de 2023 (IICA) – O acesso a novas tecnologias pode melhorar de forma significativa a qualidade de vida de pequenos agricultores na América Latina e no Caribe por um custo muito baixo, assegurou o Laureado do Prêmio Nobel de Economia 2019, Michael Kremer, ao dar uma exposição magistral durante a Conferência de Ministros da Agricultura das Américas 2023, que ocorre em São José, na Costa Rica.
“Vivemos hoje em um mundo digital, em que a informação é compartilhada de forma muito econômica. E para os agricultores mais vulneráveis, ter acesso a prognósticos climáticos ou a informações sobre a composição química dos solos pode marcar uma grande diferença. Os benefícios são muito maiores aos custos”, disse Kremer, que desde 2019 é Embaixador de Boa Vontade em Assuntos de Desenvolvimento Sustentável do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
O economista e professor da Universidade de Chicago liderou o fórum chamado “Fechar brechas em inovação, ciência e tecnologia, com ênfase especial na agricultura digital e a bioeconomia”, realizado na Conferência organizada pelo IICA na sua sede central com a participação de 32 ministros das Américas, além de altas autoridades nacionais e de organismos internacionais, líderes rurais, acadêmicos de reconhecimento mundial e representantes do setor produtivo e industrial.
O encontro de ministros, que foi inaugurado com uma convocatória a fortalecer o papel do continente como fiador da segurança alimentar e sustentabilidade ambiental global, em um contexto de crise climática e econômica, continuará até quinta-feira 5 de outubro.
Doutorado da Universidade de Harvard e Diretor do Laboratório para a Inovação e o Desenvolvimento no Centro de Desenvolvimento Econômico da Universidade de Chicago, Kremer deu detalhes de múltiplos casos no mundo em que os agricultores familiares obtiveram benefícios graças à incorporação de tecnologias simples na produção de alimentos.
Se referiu, particularmente, ao papel dos telefones inteligentes e a conectividade a internet para os habitantes rurais mais vulneráveis: “Múltiplas pesquisas no mundo mostram evidências de que os pequenos produtores ajustaram suas decisões de investimento e comportamento de acordo com os prognósticos climáticos. A relação custo-benefício é muito conveniente, já que a renda pode aumentar mais de 10% se os prognósticos são precisos”.
Inovações na proteção social
O economista laureado também sinalizou que a América Latina tem sido líder em desenvolver inovações na proteção social, que no futuro serão mais importantes pelo impacto da mudança climática na vida das pessoas. “Hoje se reage com programas de assistência depois do evento extremo, mas devemos tomar medidas antecipatórias. Por exemplo, uma inundação pode ser desastrosa para os agricultores, mas se recebem informação com antecedência podem tomar medidas para não terminar tão afetados”, susteve.
Kremer também se referiu ao papel da ciência e a pesquisa com diferentes exemplos. Assim, tomou o caso dos fertilizantes microbianos, que utilizam bactérias para facilitar a absorção de nutrientes para as plantas e melhorar a saúde dos solos. “Têm um grande potencial para ser uma alternativa aos fertilizantes sintéticos, que melhorem os rendimentos agrícolas e diminuam as emissões de gases de efeito estufa. Já estão muito desenvolvidos no Brasil”, sinalizou.
O economista se referiu à complexidade do cenário atual de crises globais sobrepostas e informou que a Universidade de Chicago lançou uma nova Comissão para a Mudança Climática, Segurança Alimentar e Agricultura, que tem entre os seus integrantes ao ex-presidente mexicano Ernesto Zedillo e ao ex-ministro de Fazenda colombiano, Mauricio Cárdenas. A comissão se propõe apoiar inovações para a mitigação e adaptação.
A exposição foi seguida com atenção pelos ministros, que valoraram a experiência do Kremer, que tem levado aos agricultores familiares de diferentes partes do mundo serviços agrícolas digitais para fornecer assistência técnica e extensão rural, essenciais para que o elo mais fraco do setor agropecuário possa obter melhores rendimentos e um aumento de renda.
“Temos um abismo de diferenças entre nossos países na questão do acesso à tecnologia”, reconheceu o Ministro de Desenvolvimento Agropecuário do Panamá, Augusto Valderrama, que contou que no seu país foi iniciado “um processo de transformação baseado na digitalização dos processos agrícolas, graças ao IICA. Podemos converter a tecnologia em amigável para os nossos produtores. Esse é o caminho; não existe outro”.
O Subsecretário de Coordenação Política da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Pesca da Argentina, Ariel Martinez, falou do papel da biotecnologia na produção agrícola do seu país. “Com uma governança muito forte estamos dentro dos grandes jogadores mundiais nesse tema”, revelou o funcionário, que destacou que “nossas participações são produzir mais com menos, ter rastreabilidade da produção e gerar condições de adaptação à mudança climática”.
“A ciência e a tecnologia são a única via para aumentar a produtividade do agro, lutar contra a insegurança alimentar, aumentar a renda dos agricultores, reduzir a pegada ambiental da produção e combater a mudança climática”, sinalizou, pelo seu lado, Tom Rosser, Vice-ministro Adjunto de Agricultura e Agroalimentação do Canadá.
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